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Pragas modernas como o ‘politicamente correto’ e o ‘verde e ecológico’, entre outras, criam polêmicas diárias que são transformadas em discussões intermináveis via Twitter, Facebook e outras redes sociais e comunicações virtuais. Como definiu meu amigo Pedro Barbosa, as armas de destruição em massa da atualidade são o celular com câmera + Twitter.

Não quero aqui fazer uma crítica aos dois exemplos de atitudes que chamei apenas para descontrair e dar um gancho inicial ao texto, de ‘pragas modernas’. Sou politicamente correta, tolerante e respeitosa com crenças, religiões e ideias das quais não comungo. Também procuro viver em linha com o respeito ao meio-ambiente e com a noção óbvia, da qual muitos se esquecem, de que vivemos no mesmo barco e que, se ele naufragar, vamos para o fundo todos juntos. Em casa separamos e reciclamos o lixo, toda a água que usamos é aquecida com energia solar, uso sacolas reutilizáveis nas compras. E procuro comprar, na medida do possível, alimentos frescos, orgânicos e saudáveis.

Mas o que me incomoda mesmo é a falta de bom senso. E a capacidade do ser humano de ouvir uma coisa, não usar o cérebro para processar a informação e apenas deixá-la fluir de um ouvido ao outro – e daí boca afora. Vamos a alguns exemplos.

O mais recente é a polêmica do filtro solar criada pela declaração da modelo Gisele Bündchen de que não usa protetores solares industrializados, pois possuem ‘venenos para a pele’. Gisele diz que não se expõe ao sol e vai à praia entre 5h30 e 8h da manhã! E que, quando necessário, passa zinco para proteger-se do sol, ‘aquela coisa branca e feia.’ Fico cá comigo imaginando eu e meus filhos tentando chegar à praia às 5h30 da manhã. A que horas teremos que ir dormir? E as conversas regadas a uma cerveja gelada, à noite, na varanda com amigos, depois que escurece e fica mais fresco? E as brincadeiras e jogos da criançada depois do jantar? Imagino-me também tentando convencer meu filho adolescente (sim, um dia vocês terão um e me entenderão) de que ele deve passar zinco no rosto e no corpo para ir à praia… aliás, alguém sabe onde vende zinco??

Coincidentemente, Gisele está lançando uma linha de cosméticos ‘naturais’, que certamente terá um filtro solar sem venenos para a pele. Admiro Gisele, mulher inteligentíssima e com senso de timing perfeito.

Outro assunto que desperta emoções é o ‘verde e orgânico’. Pois bem, nem preciso falar sobre a dificuldade de achar produtos orgânicos variados no Brasil, fora dos grandes centros urbanos. Mas vou. Há uma falsa ideia de que é mais fácil achar orgânicos no interior! Agricultura é um negócio como outro qualquer, há muita competição e commoditites têm margem de lucro baixa, ganha-se na escala e na distribuição. Nos grandes centros chegam mais produtos, há mais variedade e preços mais competitivos. Achar orgânicos no interior é trabalho de formiguinha, mesmo. Em Ribeirão Preto, onde moro, há uma produtora certificada de orgânicos que entrega produtos a domicílio. Mas são poucas opções, mais folhas verdes mesmo. Compro o que posso no Pão de Açúcar. Mais uma vez, pouca variedade e quase sempre produtos que estão ‘velhos’, sem frescor. Acrescente-se a isto um filho que come mal e coincidentemente gosta de muitos legumes e frutas que raramente estão disponíveis na forma orgânica. E os preços dos orgânicos então?

O que diz o bom senso? Como a Cecília Meirelles na poesia, bom senso para mim é ‘isto ou aquilo’. É melhor escolher apenas verduras, legumes e frutas orgânicas e ver seu filho ficar sem legumes e frutas na alimentação diária; ou vê-lo comer duas ou três variedades de legumes e frutas não orgânicos por dia? É melhor não passar ‘veneno’ na pele e ficar exposto aos raios solares nocivos ou não usar filtro solar industrializado e sofrer os efeitos do sol? (Olha que ao contrário da imensa maioria dos brasileiros. nós vamos à praia das 9h ao meio-dia viu gente?)


cena do filme “Mulheres Perfeitas” (2004)

Da minha parte, dou verdadeiros e sinceros parabéns às mães de mais de um filho pequeno que compram só produtos orgânicos, que nunca dão doces industrializados aos filhos, que não usam caldo de cubinho no dia-a-dia, que vão à praia de madrugada e passam zinco no corpo dos filhos. E que sozinhas cozinham e faxinam a casa e não têm babá. E que trabalham fora. E que ainda vivem para ler livros, ver filmes, sair com os amigos e conviver com a família. E ainda estão em forma. Eu, infelizmente, sou muito imperfeita.

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