Este é um post inicial de um projeto que espero que dê muitos outros frutos, ou posts, no futuro. E surgiu porque bastante gente me pergunta sobre os livros que estou lendo e pede dicas de leitura. E outras tantas me pedem para publicar minhas dicas de livros no blog. Voilá 🙂
Organizar as leituras quando a gente lê muito não é fácil. Achei no Goodreads uma maneira prática e gostosa de organizar minhas leituras e, de quebra, saber o que os amigos estão lendo e do que gostaram ou não gostaram. Assim, se você adora ler e lê mais de 10 livros por ano, dá uma olhada no Goodreads porque é bem legal.
Outra coisa importante para contar para vocês. Nunca gostei de largar um livro no meio. Lembro-me de sofrer com alguns livros enormes que não estavam me dando prazer algum na leitura, mas que eu achava, por alguma razão, que devia terminá-los. O tempo passa e a gente tem cada vez menos tempo na vida. E tomei a decisão de ler apenas aquilo que de fato me dá prazer, me instiga, me interessa. O método é o seguinte: a) escolho muito bem as leituras, peço dicas, leio a respeito e evito compras de impulso na livraria (que já fiz muito!); b) leio até a página 50 (quem lembra desta “comunidade” nos primórdios do Orkut??) e aí me pergunto se quero dar uma chance ao livro. É óbvio que às vezes o livro é tão bom que a página 50 passa desapercebida. Aí não tem erro mesmo 😉
Por fim, leio muito em inglês e alguns livros que vou indicar não tem ainda tradução para o português. Não se zanguem comigo. Para quem lê em inglês, todos estes títulos abaixo são facilmente encontráveis na Amazon, tanto no Kindle como em papel.
Enfim, vamos ao que interessa.
Foram 19 livros no total.
O melhor livro do semestre
Dos livros que li neste primeiro semestre de 2014 o campeão e o único a receber 5 estrelas foi o The Hare With Amber Eyes: A Family’s Century of Art and Loss, ou A lebre com olhos de âmbar, livro de estreia do ceramista inglês Edmund de Waal. O livro é de não-ficção e conta a história da família Ephrussi através das indas e vindas de uma coleção de miniaturas japonesas, os netsukes herdados de um tio-avô. A história começa quando um membro da família que vive em Paris compra a coleção no século XIX. Esta coleção passa por Viena durante a Segunda Guerra, vive no Japão por muitos anos e termina na Inglaterra nos tempos atuais. O livro é fascinante, bem escrito, emotivo na medida certa, um encanto. Vale a leitura especialmente para quem curte biografias, história e arte. Recomendo fortemente a leitura do exemplar ilustrado do livro, de capa dura. As fotos da família e dos netsukes e outros objetos tornam a leitura mais palpável, vale a pena. Aqui, uma boa resenha sobre o livro.
Outros livros dos quais gostei muito
The Levels of Life, ou Os níveis da vida, do Julian Barnes. Um livrinho curto e bem singular. A ideia inicial do autor (de quem já li O sentido do fim, outro bom livro) é falar sobre o luto após a morte de sua esposa de muitos anos. Mas para isto ele divide o livro em três partes e nas duas iniciais fala sobre balonismo, história, fotografia para então entrar na terceira parte propriamente dita sobre amor e luto. Mas tudo se encaixa e faz sentido, pois são as metáforas das fases da vida que regem sua narrativa. Um livro que não é para todo mundo, mas é lindíssimo e profundo no seu relato de luto.
Villette da Charlote Bronté. Um livro delicioso para os fás das irmãs Bronté e da Jane Austen. E especialmente para quem leu e gostou de Jane Eyre, achei este, relativamente desconhecido, melhor ainda.
I Feel Bad About My Neck ou Meu pescoço é um horror e outros papos de mulher, da escritora e roteirista Nora Ephron. Primeiro, relevem o título! É apenas o título de uma das crônicas que compõem este livro delicioso de ler para a mulherada de mais de 40 anos. A Nora Ephron, para quem não lembra, é aquela gênia que foi roteirista e diretora de algumas das melhores comédias românticas do passado como Sintonia de Amor (Sleepless in Seattle) e Mensagem para você (You’ve got mail) além de um dos filmes da minha vida, Harry and Sally. São crônicas deliciosas sobre o processo de envelhecer, filhos, carreira, etc. O primeiro texto é sobre bolsas e o segundo sobre o pescoço. Persista!
Lilla’s Feast: One Woman’s True Story of Love and War in the Orient da Frances Osborne não tem tradução em português. Mas para quem lê em inglês e gosta de biografias de mulheres que viveram vidas cheias de aventuras este é um prato cheio. Foi escrito pela bisneta da personagem [principal, que viveu mais de 100 anos. Lilla nasceu no norte da China, viveu na Índia e passou um tempo em um campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra, onde escreveu um livro de culinária, que inclusive está exposto hoje no Imperial War Museum em Londres. Gostei muito.
State of Wonder ou Estado de graça da Ann Patchett, um livro surpreendente. A personagem principal, que é americana, vai morar um tempo na Amazônia e lá passa por experiências de todo tipo. Um enredo bem original, uma história bem contada. Mesmo que para nós brasileiros algumas coisas sobre a Amazônia e os índios possam parecer inverossímeis, não há nada que comprometa. Curti bastante esta leitura
The cellist of Sarajevo ou O violoncelista de Saravejo de Steven Galloway. Um livro lindo que narra um mesmo período de tempo das vidas de personagens bem diferentes durante o cerco de Saravejo. Seus medos, suas dúvidas, suas esperanças e desesperanças e como suas vidas se entrelaçam durante a narrativa.
Um pouco sobre os demais livros que li
Best Food Writing 2009, uma coletânea da Holly Hughes – esta coletânea de crônicas e ensaios sobre comida sai todo ano. No ano passado li uma das coletâneas de “best travel writing” e este ano quis tentar este novo tema. O problema é que alguns textos são excelentes e outros nem tanto. Mas é um bom divertimento para quem gosta de crônicas sobre comida e quer uma leitura leve, que possa ser interrompida constantemente. Não tem tradução para o português.
A solidão dos números primos do Paolo Giordano – um estilo de escrita poética, original e bonita. Foi o que valeu no livro. Mas não consegui entrar na alma dos personagens, que me pareceram muito rasos. Uma história de amor e desencontros entre dois adolescentes problemáticos, tão singulares que são como números primos que se dividem apenas por um e por eles mesmos.
The Invisible Ones ou Invisíveis de Stef Penney – um mistério sobre um assassinato, envolvendo a comunidade dos ciganos na Inglaterra. Bem leve, sem pretensões. Gostei da história e de aprender mais sobre a vida dos ciganos.
South of the Border, West of the Sun ou A sul da fronteira, a oeste do sol do Haruki Murakami – um romance sobre um homem e suas paixões durante a vida. Narra especialmente seu encontro depois de casado com um amor de juventude. Apenas para passar o tempo.
The Glass Palace de Amitav Ghosh, sem tradução para o português. Um livro que foi bem indicado, mas frustrou. Um romance histórico escrito por um indiano, que começa com a invasão inglesa em Burma no início do século XX e narra a história de duas famílias ao redor das mudanças políticas, econômicas e sociais na região. Achei o autor um excelente historiador, o melhor do livro é seu panorama histórico, mas perde muito em relação aos personagens. Novos personagens vão sendo inseridos durante o livro e outros vão sendo deixados para trás. Para quem não se apega a personagens e gosta de História, pode valer a pena.
Hateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage ou Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento da Alice Munro. Mais uma vez a questão dos contos. Alguns muito bons, outros chatos e sem pé nem cabeça. Não é um estilo que eu goste muito. Para quem gosta de contos e da visão feminina da vida.
The Art Forger do B. A. Shapiro, sem tradução para o português. Mais uma história de mistério envolvendo o mundo da arte e das falsificações de pinturas. Bom divertimento.
Tuesdays with Morrie ou A última grande lição – O sentido da vida do Mitch Albom. Não costumo nem gosto de ler livros de auto-ajuda, categoria na qual classificaria este livro. Li por interesse pessoal em aprender mais sobre a doença ELA (esclerose lateral amiotrófica). Apenas para os aficcionados.
The grandmothers ou As avós da Doris Lessing. Um livro instigante com uma temática difícil que pode ser desconfortável para alguns. Mas eu gostei. O livro narra sobre uma relação de amor e sexo nada convencional. Os personagens e seus dramas são bem construídos, o panorama geral é interessante, vale a pena para quem quer pensar.
The Mussel Feast da Birgit Vanderbeke, sem tradução para o português. Outro livro instigante, da categoria dos desconfortáveis, onde entram A solidão dos números primos, os contos da Alice Munro e As avós. Um livro curtinho, narrado em primeira pessoa pela filha adolescente de uma família que espera o pai chegar para um jantar de comemoração pela sua promoção. Durante a espera ela vai falando sobre a vida da família, que em princípio parece exemplar mas que aos poucos vai desvendando seus problemas. Bem interessante.
Inferno do Dan Brown – mais do mesmo.
Não gostei (ou talvez um dia eu dê outra chance ao Paul Theroux!)
Dark Star Safari ou Safári da estrela negra do Paul Theroux – muita gente vai me xingar, mas este livro não me pegou. Queria muito lê-lo por conta da indicação do Daniel Piza. Já escrevi sobre ele aqui. Mas achei o autor mal-humorado, preconceituoso, alguém que parece estar sendo obrigado a viajar. Nem terminei a leitura. Talvez tenha que dar outra chance a ele qualquer dia desses 😉
Luciana, adoro dicas de livros, algo cada vez mais incomum. Quando vi a divulgação de sua postagem, logo vim espiar e já fiquei interessada, de cara, no primeiro – do Wall. Uma mistura de elementos preferenciais em minhas leituras: arte e biografias.
Apreciei muito o texto, o tomei como uma lista de indicações e inclusive anotei alguns. Num primeiro momento, como estou com vários na fila, colocarei apenas o de Wall como preferencial.
Obrigada!
Paula, põe na sua lista sim porque este vale super a pena!! De nada 🙂 Beijos,
Lu, adorei suas críticas.
A questão que tem me atormentado é: com as séries de tv cada vez melhores, que horas as pessoas leem? Eu mesmo tenho lido muito pouco. Estou naquela fase de literatura só infantil!
Estava pensando mesmo em te pedir uma dica. Gosto de andar ouvindo rádio ou podcast. Outro dia pensei que podia comprar um audiolivro. Não é o mesmo que ler …. mas vale pela estória. Você tem alguma dica? Queria aquela sensação de quando você está lendo às 3 da manhã e fala, só mais um capítulo… e assim vai. Queria um audiolivro que falasse: vou andar só mais uma quadra até acabar este capítulo!
um beijo
Toia, as séries e filmes do Netflix também concorrem muito com as minhas leituras. Olha, teve uma época que eu tentei os audiolivros, eu morava em Ribeirão Preto e ia muito a Araraquara e a São Paulo de carro. Mas os títulos são tão poucos… o que realmente valeu foi o “Divã”. Tenta este! Beijos,
simplesmente adorei seu blog!!!
Que bom Nani 🙂 Obrigada!
Amei este post. adoro a tua escrita entao isso aqui foi delírio total. alem do que tem livros que ainda não livo. O da Nora me fez rir a vida. Ela tinha uma forma de se comunicar ótima mesmo. Beijo imenso.
Que bom que gostou, Valentina 🙂 Beijo para você também!
Boa lista Lu
O Celista de Saravejo me chamou atenção. Estou numa fase de abrir livros viver a empolgarção inicial e depois deixá-los de lado, caí numa fria de colocar TV no quarto e ver seriados de noite, acabou com minha leitura.
Uma dúvida tu dá preferência a leitura em Inglês?
Do Theroux li os dois O Grande Bazar e o Trem Fantasma para a Estrela do Oriente, ambos li após ter feito a Transiberiana, e ter passado algumas horas nos trilhos, existem sentimento que ele descreveu super bem. Porém o autor passa sempre este sentimento mal-humorado e principalmente de preconceituoso, uma soberba e nunca tinha visto alguém ter sentido isto também, ele é muito idolatrado e o achei um babaca.
@GusBelli
Gus, dou preferência a ler na língua original em que o livro foi escrito, na medida do possível, claro. Ou seja, inglês ou português 😉 Que bom que alguém tem a mesma opinião que eu sobre o Theroux. Esta coisa de TV no quarto e Netflix diminuiu muito a minha leitura. Mas eu persisto. E você ainda tem filho bebê haha! Esta fase é menos trabalhosa. Hoje em dia eu viajo e meus filhos não querem mais ficar comigo, eles têm 12 e 15 anos. Lê este de Sarajevo. Não é uma aventura. é um livro bonito. Abraços!