O safári era para ser o ponto alto da viagem, e foi mesmo. Uma experiência incrível, diferente, emocionante. E bacana para crianças de qualquer idade 🙂
Quando fomos
Com crianças, a escolha é quase sempre por um ou outro período de férias escolares, ou seja, entre verão e inverno. Escolhemos o inverno por ser a época da seca na região do Kruger Park. Nesta época, a vegetação é mais rala e fica mais fácil ver os animais. E há menos água, pelo que os animais acabam concentrando-se ao redor dos rios e lagos. A desvantagem é o frio. Durante o dia com o sol é agradável, mas as temperaturas caem bastante de manhã cedo e no final da tarde. Sem contar que no jipe aberto venta bastante. Mas mesmo assim achamos que foi a escolha certa. E dá-lhe casaco, luva, gorro e cachecol.
Um pouco sobre os parques e safáris
Há diferentes regiões na África do Sul que oferecem passeios e safáris em parques. Vizinho a Sun City há Pilanesberg, onde é possível fazer um safári montado nas costas de um elefante e até passeios de balão. Na região do Eastern Cape há parques que são malaria free, como o Shamwari Game Reserve, recomendado por amigos viajantes.
Mas a escolha mais comum é mesmo por um safári no complexo do Kruger Park, o maior, mais variado e mais famoso parque nacional da África do Sul. O Kruger é uma tira comprida de terra de aproximadamente 60 km de largura que se estende por 380 km ao longo da fronteira com Moçambique. Do lado sul-africano, diversas reservas particulares fazem fronteira com o parque e fazem parte do complexo Kruger, já que desde 1993 não há cercas entre o Kruger e estas reservas, e nem entre elas. Os animais circulam livremente por toda a área e as reservas seguem uma rígida política de proteção aos animais e de não-interferência na Natureza, controlada firmemente pela administração do parque.
Dentro do complexo do Kruger Park há diversas modalidades de safáris, opções para todos os bolsos e experiências que podem durar de algumas horas a vários dias. Dá para passar apenas um dia no parque, circulando com seu próprio veículo ou no ônibus do parque (que funciona em algumas épocas do ano só), pelas estradas sinalizadas. Ou é possível fazer passeios em jipes abertos e com guias especializados. Neste caso, é necessário passar uma noite em algum camp ou lodge do parque, pois os passeios normalmente saem muito cedo ou se prolongam até depois do anoitecer. É possível ainda fazer trilhas a pé pela mata (longe dos bichos é claro!).
A Simone do blog Flashes de Viagem fez um post interessante onde compara o passeio no próprio veículo com o tour guiado no Kruger Park.
Onde fomos
A ultimate experience no complexo do Kruger Park é passar uma ou mais noites em um lodge ou reserva privada e aproveitar para fazer os safáris em um jipe aberto só com o seu grupo, acompanhado de dois guias e com a possibilidade de aliar passeios mais individualizados com a experiência de dormir no meio da selva africana.
Escolhemos um parque ao norte do Kruger, o Motswari, e gostamos muito. A escolha foi baseada em avaliações muito positivas do Trip Advisor e no bolso mesmo, já que neste parque crianças menores de 12 anos pagavam apenas 50% e aproveitamos ainda uma promoção que dava uma diária de graça para quem comprasse outras duas.
Mas há outras opções bacanas. A Simone do Flashes de Viagem ficou no Satara Camp no Kruger e postou sobre ele aqui. Outras reservas indicadas por viajantes brasileiros: Mala Mala, Kapama, Londolozi e King’s Camp.
Como funciona o game reserve
Não é à toa que a maioria dos game reserves não é chamada de hotel, mas sim de camp. Isto porque o esquema é só para os fortes mesmo rsrs… 🙂 No camp, pelo fato de estarmos literalmente no meio da selva africana, tem que haver todo um cuidado, principalmente à noite, para andar de um ponto ao outro. Além disto, é preciso aproveitar os horários mais favoráveis para a observação dos animais, pelo que o ideal é ‘obedecer’ ao esquema de horários colocado pela equipe da reserva. É claro que às vezes o cansaço vence, principalmente com crianças pequenas, mas é bom tentar entrar no esquema para aproveitar o máximo possível.
Na nossa reserva os bangalôs eram espalhados e havia ainda locais diferentes para brunch, almoço, jantar, descanso/biblioteca, piscina e recepção. Durante o dia, apenas macacos aparecem por perto, mas à noite há elefantes rondando a reserva, búfalos mais velhos que procuram proteção junto à piscina e a eventual visita de outros animais selvagens.
A rotina no nosso hotel era a seguinte: acordar às 5h30 da manhã, com uma batidinha na porta (quem não quiser ser acordado para este safári da manhã, pode por uma placa do lado de fora da porta com os dizeres “zzz”). Às 6h, um café ou chá com bolinhos para iniciar o dia. Às 6h30 subimos no jipe e começamos o passeio. No jipe vai só o seu grupo de pessoas, pelo que há liberdade de parar em alguns momentos para ver os bichos ou para tirar uma foto específica. Quem guia o jipe é o ranger, normalmente alguém que conhece muito sobre os bichos, a vegetação e os costumes da selva. Na frente do jipe vai o tracker, sujeito que sabe identificar pegadas, rastros e até os cocôs dos animais para orientar a busca pelos bichos. O passeio da manhã sai antes do nascer do sol e volta às 10h, com uma parada no caminho para tomar uma bebida quente. Às 10h30, um brunch delicioso nos espera na reserva com pães, queijos, cereais, frutas, omelete, mingau, quiches e outras delícias. Depois do brunch é hora do descanso. Nós íamos dormir mesmo! Às 14h30, um almoço leve, com saladas variadas e pratos frios.
Às 15h30 sai o segundo safári do dia, que volta para a reserva às 18h30, com uma parada no pôr-do-sol para um vinho no meio da selva. Nesta hora já está escuro e andar pela reserva só acompanhado do pessoal do hotel. Nosso guia nos leva até o quarto e marca um horário para vir nos buscar para o jantar. O jantar, que começa às 20h, tem um menu de sopa, duas ou três carnes e/ou peixes, legumes ou arroz e uma sobremesa doce muito caprichada. O local do jantar é sempre no Boma, uma área rodeada de bambus com a entrada em espiral para confundir os animais. No meio, uma fogueira onde as crianças assavam marshmellows todo dia. É o momento de descansar, tomar um vinho e conversar sobre as aventuras do dia. Em alguns dias, há um show de música e dança.
O serviço era incrível. Todos os funcionários da reserva, sem exceção, eram extremamente atenciosos e treinados para deixar os hóspedes os mais satisfeitos possíveis. Que tal uma bolsa com água quente para aquecer as pernas no jipe de manhã cedo?
Andar por aquela paisagem tão inóspita (no norte, onde ficava a nossa reserva, a vegetação não é a savana, mas o bushveld, um campo com árvores e arbustos retorcidos), com árvores derrubadas pelos elefantes, pássaros, rios e lagos, um silêncio só quebrado pelos sons da Natureza e lindos amanheceres e pores-do-sol, e em especial ficar a metros de distância de animais é uma experiência única na vida!
O único porém que destaco é que, em se tratando de uma viagem com crianças, é preciso gerenciar bem suas expectativas. É bom deixar claro que o safári na selva africana não é um parque de diversões. Explicamos às nossas crianças que era como uma pescaria (algo que eles já tinham feito e sabiam a dinâmica), ou seja, às vezes o jipe pode andar horas e não ver determinados bichos e de repente ter a sorte de topar com algo incrível. Ou seja, é preciso paciência! No fim, nosso saldo foi positivo, pois vimos os chamados Big Five: leão, leopardo, búfalo, elefante e rinoceronte.