Aproveitamos a fartura de peixe fresco em Lima e almoçamos todos os dias em cevicherias. A cevicheria é um bar/restaurante informal, que normalmente abre só para o almoço e onde o prato de resistência é o ceviche, em todas as suas formas.
O ceviche é um dos pratos mais típicos, provavelmente o mais emblemático, da culinária peruana. No tour pelo Mercado de Surquillo aprendemos que os incas já preparavam uma variedade de ceviche antes dos espanhóis chegarem ao Peru. Como não tinham limões usavam frutas cítricas como o tumbo, da família do maracujá. Nosso guia contou que foram encontrados em um tumba inca resquícios de tumbo, peixe e sal, ao lado de potes e facas.
Com a chegada dos espanhóis o ceviche ganhou o sabor mais pronunciado do limão e o tempero pungente da cebola. Mais tarde, a influência dos japoneses foi decisiva para que o ceviche passasse a ser feito com peixe fresquíssimo e servido com o peixe praticamente cru.
Na aula de culinária que fiz no Peru aprendi algumas coisas bacanas sobre os ceviches. Os peixes mais apropriados e mais fáceis de encontrar para preparar o ceviche são o robalo, o linguado, a corvina e o mero. Não precisa nem falar que quanto mais fresco o peixe, melhor o resultado final. Para que o peixe não fique cozido, é importante preparar o ceviche no momento de servi-lo ou no máximo duas horas antes. Outra coisa interessante: para cortar a acidez do prato, os peruanos servem junto com o peixe temperado um pedaço de milho (eles usam o choclo serrano, um milho adocicado) e um pedaço de batata doce. Normalmente o milho e a batata doce são cozidos em água com anis, uma pitada de açúcar e uma de sal. Por fim, é aconselhável usar uma vasilha de vidro para preparar o ceviche e não vasilhas de alumínio ou plástico.
Há uma variedade imensa de ceviches, que dependem dos tipos de ingredientes que são adicionados à receita. O tradicional é feito com peixe, cebola, suco de limão, coentro, aji limo (pimenta vermelha ou amarela) e sal. Mas é comum ainda usar outros frutos-do-mar e adicionar leite, alho, gengibre ou a pasta de aji amarillo, a pimenta cor-de-laranja tão típica do Peru.
Para mim o aji amarillo combina lindamente com o peixe e os demais temperos do ceviche. Foi assim no melhor ceviche que comi por lá, o do Astrid & Gastón, que foi servido com algumas lulas crocantes por cima, uma verdadeira delícia.
Ceviche à minha moda
200 g de robalo fresco cortado em cubos grandes
2 colheres (sopa) de cebola em tiras finas
1/2 colher (chá) de pimenta dedo-de-moça bem picada sem as sementes
1 dente de alho
1 col (chá) de coentro bem picado
1/2 colher (sopa) de gengibre ralado
suco de 2 limões
1 colher (sopa) de leite
pimenta-do-reino e sal a gosto
Cortar o peixe em cubos grandes. Fatiar a cebola em tiras finas. Deixar a cebola de molho em água fria com gelo por alguns minutos. Retirar a cebola do gelo e juntar ao peixe. Acrescentar a pimenta dedo-de-moça, o alho, o coentro e o gengibre. Por último o suco de limão e o leite. Temperar com pimenta-do-reino e sal.