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As causas são outro exemplo de prato muito típico do Peru. Causas nada mais são do que uma variação dos nossos ‘escondidinhos’ ou ‘madalenas’, ou seja, um prato completo onde recheios de carne, frango, peixe ou frutos do mar se revezam com legumes entre camadas de purê de batatas. O bacana da causa peruana é sua versatilidade: além da possibilidade de  usar diferentes carnes e legumes para compor seu recheio, a causa pode ser servida em um refratário em camadas para o dia a dia ou cheia de glamour enformada por um aro de metal mostrando suas camadas coloridas em ocasiões especiais. É um prato de origem criolla e comum em Lima, em Trujillo e em outros pontos na costa do Peru. Antigamente, era vendido pelas ruas pelas causeras. Assim como o ceviche, é um prato de verão e servido frio.

O maior segredo para preparar a causa é fazer um purê de batata consistente. A batata peruana mais utilizada na preparação da causa é a papa amarilla, cuja polpa é mais seca e mais arenosa do que das batatas comumente encontradas no Brasil. Assim, para fazer um purê que fique firme usando as batatas brasileiras,  o truque é não cozinhar as batatas na água mas sim assá-las no forno. Deste modo a polpa fica mais seca e mais fácil de ser trabalhada para fazer a causa. Outro segredo de uma boa causa é usar a pasta de aji amarillo, uma conserva facilmente encontrada no Peru mas que é possível ser comprada no Brasil em lojas de produtos peruanos. Se você não achar, use no lugar da pasta alho espremido misturado com azeite e Tabasco. Quebra um galho 😛

Causa limeña à minha moda

purê de batatas
1 kg de batatas
suco de 2 limões
3 colheres (sopa) de pasta de aji amarillo (se não tiver, junte dois dentes de alho espremidos, 1 colher (sopa) de azeite e algumas gotas de Tabasco)
sal e pimenta-do-reino a gosto

Pincelar as batatas inteiras com azeite e levá-las ao forno em uma assadeira coberta com papel alumínio. Deixe assar por uma a duas horas até que fiquem macias. Retirar do forno e quando estiverem mornas o suficiente para manipular, descascá-las e passá-las pelo espremedor de batatas. Adicionar ao purê o suco do limão, a pasta de aji amarillo, o sal e a pimenta-do-reino.  Misturar bem até formar um purê liso e firme. O ponto certo é quando o purê solta das mãos.

recheio de abacate
1 abacate grande ou 2 avocados
suco de 1 limão
sal a gosto

Fatiar fino o abacate e temperar as fatias com suco de limão e sal.

recheio de carne de  siri
1/2 kg de carne de siri desfiada descongelada (espremer bem para tirar a água)
1 cebola média picada
2 dentes de alho espremidos
2 colheres (sopa) de azeite
1/2 vidrinho de leite de coco
2 tomates sem pele e sem semente bem picados
1 colher (sopa) de coentro (ou salsinha) bem picado
sal e pimenta-do-reino a gosto

Refogar a cebola e em seguida o alho no azeite. Acrescentar a carne de siri desfiada e o tomate e refogar por mais alguns minutos. Acrescentar  o leite de coco, acertar o sal e a pimenta-do-reino e deixar secar um pouco. Desligar o fogo e juntar o coentro.  No Peru eles usam maionese e não leite de coco, portanto caso queira uma receita mais típica peruana não colocar o leite de coco e juntar um pouco de maionese para dar liga à carne de siri refogada no final!

 Dá para variar os recheios, usando um refogado de frango desfiado ou de camarões, por exemplo. Comi no Peru também uma causa recheada com milho, temperado com maionese e coentro. Mas acho a combinação do abacate com o siri bem típica e para mim a melhor.

Como montar a causa: colocar o aro de metal sobre o prato de servir e fazer as camadas, primeiro de purê de batata, em seguida de abacate, depois de purê novamente, em seguida de carne de siri e por último de purê novamente.

Caso não queira usar o aro, há outros dois jeitos de servir a causa. O primeiro é fazer as camadas em um refratário grande mesmo. A outra maneira é espalhar o purê sobre um filme plástico esticado na bancada e por cima colocar os dois recheios, enrolando como rocambole. Levar à geladeira por meia hora e fatiar em rodelas na hora de servir.

 

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O lomo saltado é o bife-com-arroz-feijão-e-batata-frita-de-todo-dia no Peru. Embora não tenha o feijão no prato 🙂 Isto porque qualquer cozinheira peruana sabe preparar este prato, que é uma das mais típicas e aconchegantes refeições em uma casa limenha.

Assim como o ceviche sofreu a influência dos japoneses, que trouxeram para a receita o peixe fresquíssimo e praticamente cru, também  a preparação do lomo saltado sofreu influência de uma culinária de fora, a culinária chinesa, chamada chifa. O lomo saltado é feito normalmente na wok, onde são salteados a cebola, o alho, os tomates, as pimentas e a carne de boi em cubos ou tiras. O tempero é uma mistura de China com Peru: leva pisco, shoyu, coentro e salsinha 🙂

Lomo saltado à minha moda

2 a 3 colheres (sopa) de óleo de canola ou milho
1 kg de filé mignon ou coxão mole cortado em tiras
500 g de cebola cortada em pétalas
500 g de tomate cortado em pétalas
1 pimentão cortado em tiras bem finas (ou 3 ajies amarillos se você conseguir achá-los)
2 dentes de alho
1 colher (chá) de pimenta dedo-de-moça sem pele e sem sementes bem picadinha
1/2 xícara (chá) de molho de soja (shoyu)
1/3 xíc (chá) de vinagre
2 colheres (sopa) de coentro picadinho
2 colheres (sopa) de salsinha picadinha
sal e pimenta-do-reino a gosto

Aquecer o óleo na wok. Temperar a carne com sal e pimenta-do-reino. Saltear a carne na panela. Juntar o pisco e flambar a carne.  Assim que a carne dourar, removê-la da panela. Na mesma panela saltear a cebola, os pimentões, o alho e os tomates, adicionando cada ingrediente de uma vez, nesta ordem, para que dourem por igual. Os legumes devem ficar corados mas não moles! Assim que dourarem, devolver a carne à panela e juntar o shoyu e o vinagre. Saltear mais um pouco, deixar reduzir um bocado, juntar o coentro e a salsinha, misturar e retirar do fogo. Servir imediatamente com batatas fritas cortadas grossas e arroz branco.

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Se o prato emblemático do Peru  é o ceviche, a bebida é o pisco sour. Diz a lenda que este drink foi inventado no Morris Bar de Lima, nos anos 20.

Fizemos uma aula e uma degustação de piscos com o Jesus, o simpático e competente barman do Malabar, onde também aprendemos a preparar o pisco sour e o pisco punch.

Foram os espanhóis que primeiro  trouxeram as uvas para o Peru, com a óbvia intenção de produzir vinhos localmente. Mas foram as uvas pisqueras e a produção de pisco que tornaram o Peru conhecido no mundo etílico. O pisco é um destilado de vinho puro, diferente da grappa, que é um destilado de mosto. Para fazer o pisco as uvas não são prensadas, mas centrifugadas, e depois fermentam por cerca de uma semana.

Pisco é uma denominação de origem e os similares produzidos fora do Peru ou sem as uvas pisqueras são apenas aguardentes de uva.  Há quatro tipos de pisco: puro (seco, feito com uvas Quebranta), aromatico (feito com uvas Moscatel, Torrontés ou Itália e com aroma e sabor mais frutados), acholado (produzido com uma variedade de uvas)  e mosto verde (não totalmente fermentado e assim mantendo um pouco do açúcar natural da fruta no resultado).

O pisco puro não é muito amigável ao paladar, mas nada como um pisco sour bem gelado acompanhado daqueles grãos de milho gigantes, crocantes e salgadinhos para deixar qualquer um feliz. Uma dupla viciante da qual nos fartamos no Peru.

Para preparar um bom pisco sour o mais complicado é encontrar os ingredientes certos. Para quem vai ao Peru, vale a pena trazer uma garrafa de pisco e uma garrafa de jarabe de goma, o xarope de açúcar que deixa o pisco sour com a doçura e a consistência perfeitas.

No Brasil há pisco (e angostura para finalização do drink) para vender em casas de bebidas ou supermercados gourmets. O jarabe de goma é mais difícil de achar, mas é possível comprá-lo em casas de produtos peruanos. Dá para substituir o jarabe de goma por açúcar branco, mas cuidado com as quantidades para a bebida não ficar muito doce. Vá aos poucos para achar a medida certa ao paladar. Outra dica importante é chacoalhar bastante a coqueteleira na hora de preparar a bebida. Assim, a clara de ovo ficará cremosa e ‘espumosa’ e não deixará ‘gosto de ovo’ no seu drink.

Pisco clássico

3 medidas (cerca de 270  ml) de pisco
1 medida (cerca de 90  ml) de suco de limão
1 medida (cerca de 90  ml)  de jarabe de goma 
1 clara de ovo
gelo a gosto (usei um copo)
gotas de angostura

 

 

Colocar na coqueteleira o pisco, o suco de limão (espremido na hora por favor!), o jarabe de goma (ou o açúcar), a clara de ovo e os cubos de gelo. Bater por alguns minutos até a clara de ovo ficar espumosa e cremosa. Coar o gelo e colocar a mistura em dois copos. Colocar por cima de cada copo 2 a 3 gotas de angostura para finalizar (favor não reparar na coordenação motora desta pessoa que vos escreve que conseguiu transformar as gotas de angostura em um borrão :-P).

 

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Aproveitamos a fartura de peixe fresco em Lima e almoçamos todos os dias em cevicherias. A cevicheria é um bar/restaurante informal, que normalmente abre só para o almoço e onde o prato de resistência é o ceviche, em todas as suas formas.

tumbo, fruto peruano da família do maracujá

O ceviche é um dos pratos mais típicos, provavelmente o mais emblemático, da culinária peruana. No tour pelo Mercado de Surquillo aprendemos que os incas já preparavam uma variedade de ceviche antes dos espanhóis chegarem ao Peru. Como não tinham limões usavam frutas cítricas como o tumbo, da família do maracujá. Nosso guia contou que foram encontrados em um tumba inca resquícios de tumbo, peixe e sal, ao lado de potes e facas.

Com a chegada dos espanhóis o ceviche ganhou o sabor mais pronunciado do limão e o tempero pungente da cebola. Mais tarde, a influência dos japoneses foi decisiva para que o ceviche passasse a ser feito com peixe fresquíssimo e servido com o peixe praticamente cru.

aula de ceviche

Na aula de culinária que fiz no Peru aprendi algumas coisas bacanas sobre os ceviches.  Os peixes mais apropriados e mais fáceis de encontrar para preparar o ceviche são o robalo, o linguado, a corvina e o mero. Não precisa nem falar que quanto mais fresco o peixe, melhor o resultado final. Para que o peixe não fique cozido, é importante preparar o ceviche no momento de servi-lo ou no máximo duas horas antes. Outra coisa interessante: para cortar a acidez do prato, os peruanos servem junto com o peixe temperado um pedaço de milho (eles usam o choclo serrano, um milho adocicado)  e um pedaço de batata doce.  Normalmente o milho e a batata doce são cozidos em água com anis, uma pitada de açúcar e uma de sal. Por fim, é aconselhável usar  uma vasilha de vidro para preparar o ceviche e não vasilhas de alumínio ou plástico.

ajis no Mercado de Surquillo

Há uma variedade imensa de ceviches, que dependem dos tipos de ingredientes que são adicionados à receita. O tradicional é feito com peixe, cebola, suco de limão, coentro, aji limo (pimenta vermelha ou amarela) e sal. Mas é comum ainda usar outros frutos-do-mar e adicionar leite, alho, gengibre ou a  pasta de aji amarillo, a pimenta cor-de-laranja tão típica do Peru.

Para mim o aji amarillo combina lindamente com o peixe e os demais temperos do ceviche. Foi assim no melhor ceviche que comi por lá, o do Astrid & Gastón, que foi servido com algumas lulas crocantes por cima, uma verdadeira delícia.

ceviche incrível do Astrid & Gastón

Ceviche à minha moda

200 g de robalo fresco cortado em cubos grandes
2 colheres (sopa) de cebola em tiras finas
1/2 colher (chá) de pimenta dedo-de-moça bem picada sem as sementes
1 dente de alho
1 col (chá) de coentro bem picado
1/2 colher (sopa) de gengibre ralado
suco de 2 limões
1 colher (sopa) de leite
pimenta-do-reino e sal a gosto

Cortar o peixe em cubos grandes. Fatiar a cebola em tiras finas. Deixar a cebola de molho em água fria com gelo por alguns minutos. Retirar a cebola do gelo e juntar ao peixe. Acrescentar a pimenta dedo-de-moça, o alho, o coentro e o gengibre. Por último o suco de limão e o leite. Temperar com pimenta-do-reino e sal.

 

 

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Entre as coisas bacanas e diferentes que provei no Peru está a chicha morada. Este refresco tipicamente peruano é feito com o milho de cor roxa, o maiz morado, fervido com especiarias e frutas e depois adoçado a gosto. É servido sempre frio ou gelado. Uma delícia, bem refrescante.

O maiz morado, por ter muitas antocianinas e compostos fenólicos, é um excelente antioxidante. Esta matéria explica que o pigmento do milho maiz morado previne o desenvolvimento do câncer de colon, abaixa a pressão sanguínea, age como antiinflamatório e promove a formação de colágeno. Ou seja, uma delícia cheia de saúde. Não é fácil achar o maiz morado no Brasil, mas na feira da Praça Kantuta, a feira boliviana que acontece aos domingos no bairro do Pari em São Paulo (que aliás é um super passeio legal!), às vezes tem este milho debulhado em saquinhos. Achar as espigas é mais raro, quem souber onde tem, corre comprar e fazer 😛

Chicha morada

1 kg de milho roxo (maiz morado)
cascas de um abacaxi maduro e/ou de 2 maçãs verdes
5 cravos
2 paus de canela
4 litros de água
suco de 3 a 4 limões
1 xícara (chá) de açúcar mascavo

Colocar em uma panela grande e funda a água, o milho, as cascas de abacaxi e/ou as cascas das maçãs, os cravos e os paus de canela. Deixar ferver de 45 minutos a uma hora.  Quando os grãos de milho começarem a abrir, retirar do fogo e deixar esfriar. Depois de frio coar o líquido e adicionar o açúcar e o suco de limão. Eu gosto pouco doce e bem azedo, então usei apenas uma xícara (chá) de açúcar mascavo e e suco de 4 limões, mas fica ao gosto de cada um! Servir bem gelado.

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