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Neste post  falei sobre alguns restaurantes visitados em Lima no ano passado.

Desta vez estive na cidade por conta do festival Mistura e fomos ao La Picantería, novamente ao Astrid y Gaston, ao Panchita, ao Cala e ao Papacho’s. E é sobre eles que comento agora.

Panchita

Acrescento o Panchita do Gastón Acurio aos programas imperdíveis em uma ida à cidade e um dos restaurantes que mais representam a gastronomia peruana boa, bonita e barata em Lima. Lugares charmosos, comida gostosa, preço justo.

Enquanto no Pescados Capitales se comem bons ceviches e outros pratos à base de peixes, no Panchita é a vez da comida criolla, herança da influência dos escravos na mesa da época colonial. Aqui reinam os anticuchos, sendo o mais emblemático – e delicioso mesmo – o de coração de boi. Para ir com fé! O pastel de choclo de entrada é outra delícia. Vale também experimentar um tacu tacu. Nesta ida agora, havia uma oferta de pratos preparados com mashuas, um tubérculo andino ainda bem desconhecido, inclusive pelos próprios peruanos. Tomamos uma sopa de pescado com mashuas – o chupe cremoso de mashuas e huevos de corral – de deixar saudade.  Vá!

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La Picantería

Um restaurante peculiar e super charmoso, o La Picantería é outro programão em Lima. Vale a pena pela comida e pelo clima do lugar. Chegue cedo pois há poucas mesas e lota rapidamente.

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A ideia do La Picantería é reviver as picanterías tradicionais, restaurantes caseiros onde as pessoas colocavam mesas na sala, no quintal e até na cozinha de suas casas e esperavam os vizinhos tocarem a campainha para perguntar o que havia para comer. Esta ideia de chegar e tocar a campainha é mantida no La Picantería, onde a porta fica fechada e é preciso bater para entrar.

Instalada em um bairro popular e vizinho ao Mercado de Surquillo, o melhor mercado de produtos frescos de Lima, o La Picantería procura se manter fiel  a sua inspiração. Com decoração típica de bandeiras coloridas, flores e motivos religiosos, mesas compartilhadas e menu escrito em lousas na parede, a cozinha do local tem poucos e tradicionais pratos como os ceviches, os chupes, a lengua e os peixes grelhados, ensopados e fritos.  Viemos cedo e tivemos que esperar os peixes do dia chegarem. Todas as peças de pescados (e seus respectivos pesos) são anotadas numa lousa à vista do salão e as mesas escolhem os peixes por peça. E em seguida como querem que sejam preparados. Pedimos dois peixes, um como ceviche e o outro grelhado e estava tudo absolutamente fresco e delicioso.

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A Manu do Cup of Things conta mais coisas interessantes sobre o La Picantería, inclusive sobre a tradição da chicha e outras bebidas da casa, não deixe de ler aqui.

Cala e Papacho’s

Fomos também ao Cala, onde o forte são a vista para o mar e a balada que acontece depois do jantar no bar do andar térreo. No Papacho’s comemos um hambúrguer muito bom, acompanhado de deliciosas camotes fritas.

Astrid y Gastón

Deixei por último o Astrid y Gastón por ser a tarefa mais difícil aqui.

No ano passado estive em Lima e fiz duas degustações, no Central e no Astrid y Gastón. Falo delas aqui. A do AyG foi, inclusive, a minha preferida. A degustação do AyG acontecia no mesmo salão do restaurante onde se pediam os pratos a la carte. Lugar gostoso, aconchegante, animado. Tomamos um drink no bar esperando nossa mesa. A degustação, com cerca de 12 pratos (não me recordo exatamente do número) tinha porções médias e um custo de aproximadamente US$80. Ficamos lá por volta de 2 horas e meia, quase 3 horas. No Central, a mesma coisa.

Só que desta vez no AyG foi bem diferente. Na Casa Moreyra há uma unidade especialmente montada para as degustações. Não havia um bar para esperarmos e ficamos do lado de fora, na varanda, em bancos altos ao redor de uma mesa. A sala da degustação é um ambiente de pé direito alto, bem iluminado, com mesas redondas de madeira. Nosso menu degustação, “Memorias de mi terra”, desta vez durou quase 5 horas. Foram 28 “pratos”, porções em geral bem pequenas, em 24 tempos. O preço ficou em torno de US$125.

Nestas degustações de muitos pratos é comum ter coisas de que não gostamos. Pratos que não chamam nossa atenção. Aqui os pratos eram, em geral, bem gostosos. Massas delicadíssimas, molhos e caldos untuosos, temperos deliciosos e equilibrados. Assim, não vou entrar na questão do gosto, muito pessoal. Nem na apresentação dos pratos, impecável. Nem nas louças, lindas, um espetáculo à  parte. Nem no serviço, atencioso.

O AyG pecou, para mim, no exagero. De pratos, de tempos, de horas, de minúcias. Numa analogia, aquele prato que pesa no sal, ou cujo cozimento passa do ponto. Pessoalmente prefiro rituais mais curtos, pratos maiores e menos numerosos, menos informação.  Também não recomendo fazer a maridaje, ou seja, a degustação de bebidas que acompanha os pratos. Achei muitos dos vinhos oferecidos pouco significativos. Pelo preço cobrado individualmente, dá para escolher poucos e grandes vinhos no menu.

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E para uma próxima ida à Lima ficou faltando – de novo – conhecer o La Mar, o tradicional La Gloria e o Mayta. E acrescentei à minha lista de desejos o Osso Carniceria y Salumeria, o IK e o Fiesta.

Por fim, é importante dizer que não sou crítica de restaurantes e nem tenho formação na área de gastronomia. Sou uma viajante que adora comer e viver experiências gastronômicas. E é nesta condição de provadora de degustações que escrevo. Fiz degustações incríveis no Moto em Chicago e no Per Se em Nova York. Já estive no La Vineria de Gualterio Bolivar em Buenos Aires, sobre o qual falo aqui.  No Boragó em Santiago, sobre o qual comento aqui. Mais recentemente, no DiverXo em Madri, aqui.  Como as crianças gostam da Disneyworld, eu gosto de degustações. Shame on me 😛

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Um espaço ao ar livre, na beira-mar, com chão de areia. Uma profusão de barracas coloridas. Numa primeira vista, o Mistura lembra uma feira do interior. Daquelas que têm barraquinhas de comida e tiro ao alvo. Mas a relevância do evento e da sua proposta logo ficam claros.  O Mistura é muito mais do que uma simples feira de comidas. Organizado pela Apega, a Sociedade Peruana de Gastronomia, nele se concentram cozinheiros, produtores e representantes da gastronomia de várias partes do país.

O festival é a mais perfeita tradução dos objetivos da Apega, que procura fomentar a identidade cultural da cozinha peruana, incentivar os pequenos produtores e a inserção dos produtos locais na cadeia gastronômica e promover a formação de novos profissionais comprometidos com estas causas.

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Por outro lado, quem imagina que o Mistura é puro glamour, também se engana.  O Mistura é, na realidade, um festival gastronômico feito em boa parte com a contribuição do povo. E para o povo. Aí que está a genialidade da coisa. São comidas dos mais variados cantos do país e  a gente encontra autenticidade, variedade, qualidade, novidade e preço acessível. Tudo isto com uma organização e limpeza invejáveis.

Para mim, o Mistura deu até um baile no Taste of Chicago, considerado o maior festival gastronômico do mundo. No Taste of Chicago, por exemplo, as barracas não obedecem uma ordem lógica, o que torna mais difícil achar as comidas. Não há um mercado com produtos locais e nem muitos espaços confortáveis para sentar e comer, como no Mistura.

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Como funciona o Mistura

Para entrar é preciso comprar ingressos, que custam cerca de R$15 e são vendidos na hora na Portaria 1 ou pelo site do Mistura.

É possível ir ao Mistura de ônibus, carro ou táxi. O site do evento explica em detalhes como usar cada meio de transporte.

O Mistura funciona anualmente, durante 10 dias corridos, sempre no mês de setembro. Abre às 11h da manhã e fecha às 22h de segunda a quinta e às 23h de sexta a domingo.

Praticamente todas as barracas do Mistura aceitam apenas fichas, adquiridas dentro do próprio local do evento. A exceção é o Bazar, onde a maioria das barracas aceita só dinheiro. As bilheterias vendem combos diferentes, com fichas nos valores da maioria dos pratos. Os pratos mais caros custam por volta de R$ 13 e os mais baratos por volta de R$ 5.

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O que fazer no Mistura

O mais bacana do Mistura é que ele é organizado por “temas gastronômicos”, que se dividem em grandes barracões/áreas, os chamados “mundos”:  o Mundo Norteño (de comidas do norte do Peru), o Mundo del Sur (das comidas do sul do país), o Mundo Criollo (da cozinha colonial que sofreu influência dos escravos africanos), o Mundo Andino e Amazônico, o Mundo de las Cevicherias, o Mundo de Los Sanguches (sanduíches), o Mundo Oriental (com as comidas que sofreram influência da vinda dos japoneses e depois dos chineses ao Peru), o Mundo de Las Brasas e Los Anticuchos (dos churrascos e espetos), o Mundo del Pan e o Mundo de los Dulces. Fora as áreas dedicadas às bebidas. Ou seja, fica muito fácil ver, entender e provar as variedades de comidas presentes na feira.

Além de provar as comidas nas barracas dos “mundos”, é possível também fazer degustação de cervejas no Mundo Cerveceiro, visitar e comprar produtos secos e frescos no Gran Mercado, uma espécie de feira livre que funciona dentro do Mistura, e comprar comidas e objetos ligados à culinária no Bazar. Também dá para assistir apresentações de danças regionais, concursos, palestras e degustações em horários pré-determinados no Gran Auditorio.

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Dicas úteis

  • Programe-se para ir ao Mistura durante a semana, quando o local fica bem mais vazio do que nos fins de semana. E prepare-se para passar o dia todo lá.
  • Leve alguém com você! O ideal é ir em grupo, pois quanto mais gente para dividir os pratos, mais comidas você pode experimentar e mais legal fica a experiência.
  • O lugar é rústico e há muita poeira e areia. Escolha um sapato confortável e fácil de limpar depois.
  • Assim que entrar, vá direto à bilheteria mais próxima e compre um combo de fichas.
  • Procure saber antes quais as barracas mais famosas em suas especialidades. Vale a pena, por exemplo, provar os anticuchos da Grimanesa Vargas, o ceviche da Sonia, os sushis do Hanzo e os sanduíches do La Lucha ou do El Chinito.
  • Atenção: algumas barracas são tão concorridas que vale a pena começar por elas, já que as filas vão aumentando durante o dia. Para quem não dispensa as carnes, o ideal é começar pelo porco no cilindro, concorridíssimo, e pelas costelinhas de porco da caja china.
  • Há pontos de wifi dentro do Mistura que podem ser utilizados livremente.

Neste post, a Manu do Cup of Things dá dicas preciosas para escolher onde comer no Mistura.

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O Mistura é o máximo. Um parque de diversões para os fãs da gastronomia. Um programão para quem gosta de comer bem. Simplesmente vá.

Aqui, a Manu do Cup of Things conta mais sobre o Mistura.

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Não foi nada fácil escolher os restaurantes para comer em Lima. Como acontece com quase todo mundo que curte comer, em Lima são sempre poucos dias para muitos lugares. Escolhi restaurantes para jantar e cevicherias para almoçar, principalmente porque adoro peixe e frutos do mar e queria me fartar deles. Depois me arrependi, devia ter deixado de lado algumas cevicherias e ter ido ao Panchita ou outra anticuchería para provar comida peruana tradicional que não fosse do mar. Mas nada que não me permita sonhar com uma próxima viagem 😛

PESCADOS CAPITALES

Neste post sobre os programas imperdíveis em Lima já falei do Pescados Capitales. Uma delícia de lugar, vale a pena reservar uma data para almoçar neste restaurante que é bom, bonito e relativamente barato. O lugar é grande, acomoda bastante gente e dá para ir sem reserva. Os garçons são simpáticos e o cardápio divertido, todo baseado nos pecados capitais. Peça um pisco e petisque o milho frito da casa ou um piqueo. Para começar, prove um ceviche ou tiradito. Adoramos o cebiche capital 3 x 3. Experimente um peixe, massa ou risoto e de sobremesa, a mousse de chirimoya ou a tarta de lucuma que são divinas.

ASTRID & GASTÓN

Adorei o Astrid & Gastón e, ao contrário de muita gente, gostei mais da minha experiência nele do que no Central.  No Astrid & Gastón  fomos de menu-degustação e não nos arrependemos. Tudo gostoso, bonito e na medida certa. Lá comi o melhor ceviche da minha vida, um tanto quanto heterodoxo, com seus anéis de lulas fritas e crocantes misturadas ao peixe fresco cru. Uma sobremesa linda, leve e deliciosa fechou a refeição: sorvete de lucuma com uma casquinha crocante de chocolate.

CENTRAL

Decepcionei-me um pouco com o Central. Mas acredito que há toda uma expectativa que cerca estes lugares tão falados e incensados.  O menu-degustação do Central era de uma boniteza só, muito variado, criativo e diferente. Mas talvez um pouco radical demais para mim. Achei que alguns dos frutos do mar não estavam na textura que eu gostaria de comer, além de sentir falta de um pouquinho mais de sal em alguns momentos.  Mas valeu a experiência. O chocolate deles é sensacional, sirva-se de mais de um no final da refeição 😉

(No Central tomamos o único vinho digno de nota de toda a viagem: o neozelandês Sauvignon Blanc Villa Maria 2012. Muito bem recomendado pelo sommelier do local)

MALABAR

Voltando a falar de expectativas, o Malabar foi a grande surpresa da viagem, principalmente porque eu não esperava nada dele. Um menu-degustação mais enxuto do que do Astrid & Gastón e do Central, na medida da fome das pessoas normais e muitas surpresas bacanas. Aqui provei pela primeira vez a alga cushuro, bolinhas verdes refrescantes que combinaram muito bem no ceviche de almejas servido como segundo prato, após a lula. Depois, peixe e pato e por fim a sobremesa que estava de uma delicadeza e gostosura ímpar, a cahuana de coco con guanábana y cítricos regionales.

RAFAEL

Gostei bastante do Rafael embora tenha provado apenas uma entrada de polvo na brasa e um prato único, com atum fresco. Tudo gostoso e na medida certa.

MAIDO

Queria uma experiência em um restaurante nikkei peruano e da lista tríplice que tinha o Hanzo, o Maido e o Osaka, acabei escolhendo o Maido.  Confesso que não fomos muito felizes nele. Começou com a bebida. Apesar de termos feito a reserva e chegado uns 5 minutos antes do horário marcado, e apenas uma mesa do restaurante estivesse ocupada, nos colocaram à espera no bar. Ofereceram-nos uma taça de vinho branco que deixou muito a desejar. Pedimos sake. Serviram um sake bem ruim… produzido nos EUA. A comida estava apenas boa.

EL MERCADO

O El Mercado, a cevicheria do chef Rafael Osterling nos agradou muito. Um ceviche impecável e um prato delicioso, o Tacu Tacu Amelcochado feito com frutos do mar salteados em um molho de vinho branco, pisco e aji amarillo, servido sobre uma mistura de arroz e feijão, que parecia um bom curry. O lugar é gostoso mas por ser praticamente ao ar livre estava bem frio, o que atrapalhou um pouco a refeição. Fiquei com vontade de voltar em um dia mais quente e provar outros pratos.

Pois é! Faltou muuuito lugar para experimentar em Lima. 😀

Ficaram para minha lista futura o La Mar peruano, o La Gloria (um dos mais antigos, conceituados e tradicionais da cidade),  os nikkeis Osaka e Hanzo, o já mencionado Panchita (a antícucheria do Gastón Acurio), o Lima27, o Amor Amar e o Tanta indicadíssimos pela Manu do Cup of Things. Até o La Rosa Nautica (o turistão com vista, ou melhor, dentro do mar) e o Huaca Pucllana (pela curiosidade de comer olhando a Huaca iluminada à noite). E o Maras, o Amaz e o Mayta que eu nem sei mais de onde tirei 😉

A Manu do Cup of Things  fala sobre o Lima27 neste post. Ela também comenta sobre o Tanta, o restaurante bom, bonito e barato de Lima onde comer não tem erro, aqui.

A Ailin Aleixo do Gastrolândia fala das suas escolhas de restaurantes em Lima (entre eles Astrid & Gastón, Central, Malabar e o Pescados Capitales) aqui.

O Edu Luz do DCPV fala da ida ao restaurante La Gloria neste post, do restaurante Rafael aqui e finalmente do Astrid & Gastón aqui.

A Natalie do Sundaycooks também fala do Pescados Capitales, entre outros, neste post e do Tanta aqui.

 

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Com viagem marcada para o Peru, combinei de encontrar a Manu Tessinari em Lima. A Manu é uma amiga brasileira que mora lá e tem um blog muito bacana com dicas do Peru, o Cup of Things.

Conversando com a Manu sobre as delícias e percalços da vida de blogueira de viagem, comentamos como é difícil responder a fatídica pegunta que volta e meia aparece: “o que é imperdível em xxxxx?” Esta pergunta capciosa é complicada quando temos um conhecimento mais do que superficial sobre um local. Como é o caso da Manu em Lima, por exemplo. Ou quando alguém me pede uma indicação de restaurante em São Paulo. Estas respostas costumam ser tratados de várias páginas 😀

Lembrei da conversa com a Manu para fazer este post.  Para mim, que fiquei apenas quatro dias em Lima, fica mais fácil escolher 😉  Com vocês, cinco coisas que considero imperdíveis para quem vai a Lima, no Peru.

1 – ANDAR NA BEIRA-MAR

Foto: Edu Luz do DCPV

A característica mais marcante da cidade de Lima é a beira-mar. A cidade propriamente dita fica à beira do mar mas não exatamente ao nível do mar. Há um barranco ou platô que se estende por quilômetros e separa duas avenidas que serpenteiam pela costa: uma lá embaixo, ao nível do mar, e outra em cima, beirando os prédios e casas da cidade, com muitos trechos de parques. Ou seja, para entender Lima é preciso ver esta singular geografia de perto. Mas há a peculiaridade do clima que deixa tudo ainda mais diferente. Lima tem umidade altíssima, mas praticamente não chove na cidade. Nos dias em que estive lá a umidade chegou a 100% e não choveu. Não há bueiros nas ruas 🙂 Durante o inverno, entre junho e setembro, isto provoca uma neblina densa que é quase onipresente na cidade. O céu é branco 95% do tempo. Não é muito bonito, mas é bem interessante e bem típico da cidade.

O melhor trecho para caminhar fica em Miraflores, entre o Parque del Amor e o shopping center Larcomar. Visite os dois. No caminho, estique os olhos para ver lá embaixo o restaurante La Rosa Náutica, que fica praticamente dentro do mar e é um dos mais tradicionais da cidade.

(A foto foi gentilmente ‘emprestada’ pelo Edu Luz do DCPV já que as minhas fotos do local não eram publicáveis)

 2 – PASSEAR PELO CENTRO HISTÓRICO

O Centro Histórico de Lima é um pouco maltratado mas tem atrações importantes. Vale a pena circular pela Plaza de Armas e arredores e conhecer algumas delas. Destaco a Catedral, o Palácio Episcopal, o Monastério de Santo Domingo, o Convento de São Francisco e a Casa Aliaga. Para mim, ficou faltando o Museo Bodega y Quadra. Se tiver tempo, vá. É bom ficar atento aos horários de abertura e fechamento. O Convento de São Francisco, por exemplo, fecha entre 12h e 16h. Outra informação importante: para visitar a Casa Aliaga é necessário agendar a visita. Mas vale a pena, o lugar é lindo.

A Manu explica tim tim por tim tim como explorar o Centro Histórico de Lima neste post aqui.

3 – VISITAR O MUSEU LARCO

O Museu Larco (ou Museo Arqueologico Rafael Larco Herrera) é um super passeio em Lima, por várias razões. Primeiro porque ele fica em um bairro residencial de classe média com praças e casas bem típicas da cidade.  Se tiver tempo livre, vá caminhando entre o Museu Larco e o Museu Nacional de Arqueología Antropología e Historia del Perú  e visite-o também. Segundo, porque ele fica em uma praça bonitinha. Terceiro pelo lindo jardim – que estava cheinho de primaveras floridas quando fomos – e pelo restaurante que dá vista para este jardim, o Cafe del Museo, que é uma delícia. Mas quarto e mais importante pelo próprio museu, onde há uma completa coleção de artefatos cerâmicos dos incas que contam muito da história deste povo. O tour guiado com a guia Natalie, que fala português, foi ótimo e fez toda a diferença. Não perca.

A Patricia do Turomaquia também foi ao Museu Larco e conta aqui porque também acha o programa imperdível.

4 – COMER NO PESCADOS CAPITALES

Comer bem em Lima é fácil. E vale a pena provar ao menos uma vez a tradicional cozinha peruana, mesmo para aqueles que não são fanáticos por comida. Porque comer no Peru, e especialmente em Lima, é programa turístico dos mais interessantes 😛 Mas se eu tivesse que escolher um lugar em Lima, certamente escolheria o Pescados Capitales. Também aqui por vários motivos. O lugar é grande, acomoda bastante gente e dá para ir sem reserva. Os garçons são ultra-simpáticos. A comida é excelente. O preço é bom. Que tal?

O cardápio é muito divertido, todo baseado nos pecados capitais. Peça um pisco e petisque o milho frito da casa ou um piqueo. Para começar, prove um ceviche ou tiradito. Adoramos o cebiche capital 3 x 3. Experimente um peixe, massa ou risoto e de sobremesa, a mousse de chirimoya ou a tarta de lucuma que são divinas.

O Edu e e a Dé também contam aqui como foi a experiência deles no Pescados Capitales.

5 – CURTIR O FIM DE TARDE E A NOITE NO BAIRRO BARRANCO

O bairro Barranco em Lima tem uma história parecida com a de outros tantos lugares. Bairro onde no passado os ricos e famosos da cidade construíram suas mansões de veraneio, depois ficou decadente. Há alguns anos  transformou-se no queridinho dos modernos e descolados da cidade. E, em seguida, no queridinho dos turistas também. Nele ficam as casas mais coloridas e as antigas mansões coloniais mais charmosas de Lima. É também o bairro de vários bons restaurantes e bares, discotecas e lugares para dançar e ouvir música ao vivo, ateliês de artistas, lojinhas descoladas, pequenos museus e galerias.

Li o excelente post da Manu Tessinari sobre o Barranco e fui na sua dica de começar o passeio pela Biblioteca Municipal, onde há um local para pegar informações turísticas e mapas da cidade. Próximo dela, a bonita La Ermita, a Puente de los Suspiros, o mirante com vista para o Oceano Pacífico  e a Bajada de Baños, um caminho que leva à praia. Ao lado da Puente, uma ruazinha de bares em casinhas coloridas. A alguns quarteirões dali fica a rua conhecida como Malecon Saenz Peña, onde fica a Dédalo, lojinha das mais badaladas do pedaço, e a Galería Lucía de La Puente. Da Biblioteca  também sai a charmosa Av. Pedro de Osma, onde ficam os museus Pedro de Osma e MATE, um próximo do outro. O primeiro é um casarão antigo com um conjunto de bonitas pinturas cusquenhas e o segundo um instituto criado pelo Mario Testino, famoso fotógrafo peruano. A Manu conta mais sobre o MATE aqui.

Entre os melhores restaurantes no Barranco, há o lindo e gostoso Amor Amar e o super moderninho mistura de bar e restaurante Ayahuasca, que ficaram na minha lista de desejos para uma próxima viagem 😛

E OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS EM LIMA?

Já sei que vou apanhar de alguns: como assim você não citou entre as coisas imperdíveis em Lima a visitação de algum sítio arqueológico na cidade ou na vizinhança?? É porque realmente acho este apenas o item 6 na lista de coisas imperdíveis na cidade 😀

Pachacámac, provavelmente o  sítio arqueológico mais visitado, fica a 40 km da cidade em um local sem muita infraestrutura para o turista.Entre os sítios arqueológicos para visitação, fique com a Huaca Pucllana. É dentro da cidade, o lugar é pitoresco, o tour é completo e há todo um cenário de “bonecos” além de animais e plantações de verdade. O restaurante lá dentro é bem considerado e vista das ruínas é bacana à noite.

A Nat e o Fred do Sundaycooks foram a três sítios arqueológicos em Lima e contam a respeito deles aqui.

No blog Cup of Things da Manu, referência no que diz respeito a Lima, você vai achar dezenas de dicas bacanas da cidade. Inclusive este post que sugere o que fazer em Lima em um dia só.

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Comemos muito bem em Lima, mas Cusco foi uma grata surpresa. A cidade oferece experiências gastronômicas interessantes que complementam bem os passeios e fazem dela uma verdadeira delícia. Vale a pena escolher com cuidado os restaurantes em Cusco. E reservá-los é altamente recomendável.

Não esperava nada e talvez por isto tenha gostado muito do Cicciolina. Foi o meu preferido em Cusco. Ambiente aconchegante, com um bar onde dá para ficar no vinho e nos tapas, um pisco super gostoso (que infelizmente à noite brigou com o ‘mal de altitude’ nos meus sonhos) e pratos caprichados. Provamos a tradicional saralawa, uma sopa de milho com favas, ají amarillo e huacatay, uma erva nativa que lembra manjericão e hortelã (divina!). Esta sopa é bem típica da região e o cusquenho dificilmente faz uma refeição, seja almoço ou jantar, sem acompanhá-la com uma sopa quente. Também ficou na lembrança uma sobremesa delicadíssima, um mil folhas com creme de gengibre, recheado com cubos de manga e acompanhado por uma bola de sorvete de albahaca, o manjericão andino.

Gostei do Chicha, o restaurante do Gastón Acurio em Cusco. Ambiente simples, serviço um pouco desatento, mas nada que comprometa a experiência. Lá provei o tradicional  pastel de choclo e um prato que estava bem bom, a chaufa andina de quinua y cuy. O cuy, em uma milanesa crocante (chicharrón) e no ponto certo, vinha acompanhado de quinua com vegetais da estação. Outro prato que provamos também estava muito bom, o anticucho de corazón, espetinhos de coração de boi grelhados e muito bem temperados, acompanhados de batatas douradas, milho na manteiga e um molhinho delicioso.

O MapCafe, que fica dentro do Museo de Arte Precolombino, é literalmente um cubo de vidro com mesas no meio do pátio do museu. Ou seja, de dia o ambiente não tem muito charme, mas à noite, iluminado, fica interessante. O preço é meio salgado, mas a comida é bem criativa e gostosa. Lá comi uma versão gourmet do  prato da cozinha arequipenha solterito, que levava um purê morno de favas, mini legumes refogados, bolinhas de queijo de cabra e um chimichurri de favas, um prato lindo de olhar e de comer. As sobremesas são um capítulo a parte, divinas. Provei o beso de lúcuma en cinco texturas (líquida, cremosa, espumosa, crocante y arenosa, junto a un helado de chocolate y café de Quillabamba) que estava maravilhoso e um crujientes merengues de coco sobre piñas maceradas en Kirsch a la parrilla, crema de maracuyá y tapioca cocida en leche de coco y vainilla também muito bom.

Também gostamos do pequeno e despretensioso El Cafe de Mamá Oli. Um café pequeno que fica na Plazoleta Nazarenas e é uma delícia para almoçar rápido e barato ou para tomar um suco ou chá com um bolinho à tarde.

Infelizmente foram poucos os dias em Cusco e dois restaurantes que estavam na minha lista ficaram para uma próxima visita: o Limo e o Senzo do Virgilio Martinez, que fica no hotel Palacio Nazarenas.

Uma surpresa foi o almoço no restaurante da Hacienda Huayocari, que fica entre Cusco e Urubamba no Valle Sagrado. Uma fazenda antiga com uma vista bonita do vale e uma decoração linda com móveis e objetos antigos e algumas obras de arte. Todo um clima para um almoço mais caprichado e com comida bem gostosa. Vale para quem quer fazer um passeio mais preguiçoso. É imprescindível reservar.

A Natalie e Fred contam dos seus lugares preferidos para comer em Cusco, aqui. A Pat do Turomaquia também dá suas dicas de restaurantes, aqui. Mais dicas de lugares para comer em Cusco também do Edu Luz do DCPV  e da Jô Bibas do Arte Amiga.

 

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MELHOR ÉPOCA PARA IR

A melhor época do ano para ir a Cusco e Machu Picchu é  na época da seca, entre maio e setembro, considerada o inverno deles. Junho é o mês mais frio, mas em compensação quem vai neste mês pode se organizar para estar em Cusco na festa de Inti Raymi, em 24 de junho.  A temperatura no inverno oscila entre 4ºC e 20ºC. Não é aconselhável ir no verão, especialmente entre dezembro e março. As fortes chuvas, além de atrapalhar os passeios, podem causar alagamentos e desabamentos e o consequente fechamento de rodovias e ferrovias, inclusive a linha de trem que leva a Machu Picchu.

Mãe com bebê nas costas em Sacsayhuaman

COMO PLANEJAR A VIAGEM

O primeiro ponto importante a se pensar no planejamento da viagem é que voar de São Paulo a Lima e logo em seguida de Lima a Cusco (ou vice versa), leva praticamente o dia inteiro. Considere este dia perdido no seu roteiro. O primeiro dia em Cusco também é difícil pois quase todo mundo sente o ‘mal da altitude’ e não é aconselhável programar grandes passeios  antes de uma boa noite de sono na cidade.

Compañia de Jesus na Plaza de Armas de Cusco

Cuidado com o ‘mal da altitude’

Cusco está a 3.400 m acima do nível do mar e mesmo uma pessoa resistente vai sentir algum desconforto.  Dicas – testadas – para evitar o mal: a) não fazer grandes passeios no dia em que chegar, b) tomar mate de coca que melhora os sintomas do mal (não, não é um entorpecente),  c) não comer muito e nada pesado ou  gorduroso neste primeiro dia, d) não beber álcool (acredite, aquele pisco sauer não é tão inofensivo quanto parece) e e) beber bastante água. Obs. estas dicas valem para os demais dias se o ‘mal da altitude’ continuar a atacar com força. No  Sundaycooks, mais dicas sobre como prevenir o mal das alturas. A Lu Malheiros do Dividindo a Bagagem também conta de um remédio para este mal aqui.

Uma janela para o céu em Machu Picchu

A logística para visitar Machu Picchu

Não dá para comprar ingressos no local para entrar em Machu Picchu. É preciso comprá-los com antecedência, inclusive porque há um limite de  visitantes que podem entrar por dia.  A logística entre Cusco e Machu Picchu também é complicada. Primeiro é preciso pegar um táxi de Cusco a Poroy, um trajeto que leva 20 minutos. Em seguida um trem em Poroy que vai a Águas Calientes, viagem que leva cerca de 3 horas. Em Águas Calientes é necessário pegar um ônibus para chegar a Machu Picchu. Este último trajeto leva uns 40 minutos.  A volta é igual. Ou seja, a logística complicada e a compra de bilhetes com antecedência têm que ser consideradas no planejamento da viagem.

Aconselho fortemente utilizar uma agência de viagens para organizar este passeio.  Ou então comprar um bilhete (caro) de ida e volta no Hiram Bingham, que já inclui todos os traslados, bilhetes, guia em Machu Picchu, almoço, jantar e lanche. Se quiser se aventurar sozinho, o Fred do blog Sundaycooks explica como ir a Machu Picchu aqui. No Dividindo a Bagagem a Lu Malheiros também dá o caminho das pedras neste post. E o Gleiber do Andarilhos do Mundo fez um post completíssimo com o beabá de como chegar a Machu Picchu aqui.

Machu Picchu

Dormir ou não em Machu Picchu, eis a questão

Não há uma resposta exata para esta questão.  Depende muito do tipo de viajante que você é. Para os mais aventureiros, que além de visitar Machu Picchu vão querer escalar a montanha de Wayna Picchu ou subir até a Puerta del Sol, que é o ponto de chegada da trilha inca,  vale a pena considerar ficar mais de um dia e dormir no Sanctuary Lodge no próprio local ou em outro hotel na cidade de Águas Calientes. Isto também vale para quem não gosta de passeios muito corridos e prefere fazer as coisas com calma. Mas para o turista ‘ninja’ ou que tem um roteiro de viagem mais apertado, é perfeitamente possível visitar Machu Picchu em um dia só, saindo e voltando de Cusco. A Manu do blog Cup of Things explica aqui como fazer um bate e volta a Machu Picchu via Cusco.

Balcões de Cusco ao entardecer

O QUE VESTIR

Leve calças confortáveis e um bom sapato para caminhadas (que não escorregue nas subidas de escadas). No inverno, o ideal é vestir-se em camadas porque a amplitude térmica é grande. De dia, com sol, dá para ficar de camiseta de manga comprida ou até  manga curta. De manhã cedo e no final da tarde é mais frio. Muitos dos passeios são em lugares altos, que pedem um casaco que proteja contra o vento. Uma dica preciosa: em Cusco faz mais frio do que em Machu Picchu. Não pague o mico de levar um casacão pesado se for passar algumas horas em Machu Picchu, porque provavelmente vai passar o dia carregando-o nos braços.

Ruas de San Blas em Cusco ao entardecer

O QUE LEVAR

Cusco e Machu Picchu são lugares com altitude elevada, ar rarefeito e clima bastante seco. A incidência solar é muito forte e nos passeios pelo Valle Sagrado e por Machu Picchu há poucos lugares sombreados. Assim, é importante levar chapéu, óculos escuros, filtro solar e água.  Um bom casaco corta-vento, mochila leve para levar água, lanche, máquina fotográfica. Você vai precisar das mãos livres para fotografar e segurar nas pedras. Depois do Atacama, Cusco e Machu Picchu são os lugares mais fotogênicos que eu conheço.

COMO ESCOLHER OS PASSEIOS EM CUSCO

Escolher o que visitar em Cusco vai depender muito do tempo que você tem na cidade. Considere que no primeiro dia em Cusco não dá para fazer muita coisa por conta do ‘mal da atitude’. Reserve um dia inteiro para ir e voltar de Machu Picchu. E lembre-se que se for voar de volta ao Brasil saindo de Cusco terá que fazer a escala em Lima e isto vai levar um dia inteiro também. Ou seja, nesta brincadeira já são duas noites em Cusco. Se você tem tempo disponível, vale a pena comprar o Boleto Turístico e reservar três dias inteiros para tours pelo Centro Histórico e pelo Valle Sagrado.

A Natalie e o Fred do blog Sundaycooks fizeram isto e contam aqui.  O Gleiber do Andarilhos do Mundo explica em detalhes como é o Boleto Turístico aqui. Caso você não tenha este tempo todo, pode fazer um roteiro mais enxuto, como por exemplo este roteiro muito bom da Manu Tessinari do blog A Cup of Things.

Valle Sagrado

Como passear em Cusco em apenas dois dias

Minha sugestão de roteiro em Cusco para quem tem tempo limitado é quase similar a da Manu. Não vale a pena comprar o Boleto Turístico e fazer todos os passeios através de agências. O centro da cidade de Cusco é pequeno e dá tranquilamente para visitar as principais atrações a pé, com a ajuda de um mapa, que a maioria dos hotéis fornece gratuitamente. Pontos imperdíveis no Centro Histórico: o Qorikancha (ou Templo de Santo Domingo) e a Catedral. Em ambos, não faça economia e pague um(a)  guia que fica no local, vale super a pena. Entre os museus, se for para escolher um, vá ao Museo Inka.  O bairro de San Blas, com suas ruas estreitas cheias de lojinhas de artesanato, é bacana para passear.

Fios tingidos naturalmente para a tecelagem peruana

Pule o ‘combo’ Sacsayhuamán, Q’enqo, Puca Pucara e Tambomachay. Estes sítios arqueológicos vizinhos a Cusco são interessantes, mas menos do que os sítios arqueológicos do Valle Sagrado. O ingresso de entrada vale para os quatro locais e não dá para pagar menos para ver só um deles. Ou seja, vá só se tiver tempo livre.

Caso contrário, deixe para visitar o Valle Sagrado que tem atrações mais interessantes, entre elas os imperdíveis sítios arqueológicos de Ollantaytambo, Moray e Pisac; as Salineras de Maras, o mercado de artesanato em Pisac. Para quem vai com crianças, é legal passar por Awanacancha, um local onde é possível  ver de perto alpacas e lhamas e alimentar os animais, além de  ver uma  pequena demonstração de como são feitos e tingidos os fios utilizados nos tecidos peruanos.

 

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Sempre que contava que estava indo ao  Peru, tinha alguém para dizer “ah, você vai comer muito bem lá!”

De fato comi muito bem no Peru. Não só em restaurantes caros, mas em botecos e lanchonetes – no caso, cevicherias, sangucherias e anticucherías.

Mas não é só. Conheci um país apaixonado por comida e pela culinária.

Um país feito de comida muito boa, variada, colorida e criativa. Um país com alma gastronômica.

Claro que há outros! Ninguém questiona a França, a Itália, a Espanha. Mas na América Latina acredito que o Peru é um caso único. Quase todo peruano com quem conversei, de guias turísticos a taxistas,  é um entusiasmado por comida. Desfiam receitas, contam dos hábitos de comida na família, o que comem nas festas e têm na ponta da língua um restaurante para indicar.

E fiquei pensando no porquê desta paixão toda. Como foi que este país  firmou este inconsciente coletivo gastronômico tão forte. Bom, tenho cá a minha teoria. De leiga, claro.

Ceviche do Astrid & Gastón, o melhor.

Gastón Acurio

Começo pelo fim, que aqui é o Gastón Acurio. Muitas das pessoas com quem conversei no Peru acreditam que Gastón Acurio é o grande responsável por este boom gastronômico do país. Não só na sua função de chef e dono de restaurantes, mas também pelo seu papel social. A  história do Gastón Acurio é muito interessante.  Seu pai, advogado por formação e político  de carreira, queria ver o filho sucedendo-o. Mandou-o para a universidade em Madri para estudar Direito.  Na Espanha, Gastón conheceu Juan Maria Arzak e se apaixonou pela gastronomia. Largou a faculdade de Direito e acabou no Cordon Bleu em Paris. Ali se formou e voltou ao Peru em 1994 com sua esposa Astrid. Seu sonho era sofisticar a culinária peruana e o cenário gastronômico em Lima. Para tanto, abriram um restaurante francês, o Gastón & Astrid.

“Que sentido tiene la gastronomía peruana, sino puede contribuir al desarrollo del Peru, que sentido tiene una gastronomía peruana conviviendo con desnutrición, hambre y desigualdad de justicia, no tiene sentido”  (Gastón Acurio)

Mas aí que vem a parte bacana. Gastón começou a viajar pelo Peru. E começou a perceber a riqueza que tinha em mãos. Uma quantidade imensa de ingredientes diferentes. Uma história culinária rica, variada, espalhada pelos mais diversos cantos do país. Começou a explorar a culinária nativa e a fazer parcerias com produtores locais.

Em 2007 abriu uma escola superior de culinária em Pachacútec, distrito na periferia de Lima.  Empresas privadas peruanas e ONGs espanholas ajudaram a financiar o negócio. A mensalidade do Instituto de Cocina Pachacútec gira em torno dos 60 soles (cerca de R$ 50) enquanto escolas do mesmo nível chegam a ter mensalidades de dois mil soles. Há também uma política de empréstimos estudantis. Gastón Acurio arrastou com ele outros chefs de cozinha, outros empresários.

Hoje, o Peru tem mais de 40 escolas superiores de gastronomia espalhadas pelo país. É o único país da América do Sul que tem um instituto Le Cordon Bleu. Muita gente simples vem aprendendo e encontrando sua carreira nesta área.

Mercado de Surquillo, em Lima. Tem de tudo mesmo!

Diversidade climática

O segundo aspecto importante é que o Peru é um país privilegiado pela variedade de microclimas. Esta variedade traz uma grande riqueza de ingredientes. Claro, o Brasil também é assim. Mas pensem no tamanho do Peru em relação ao tamanho do Brasil. Imaginem sair de São Paulo e em uma hora de voo chegar aos Andes ou à selva amazônica. E ter gente no país todo preocupado em resgatar e explorar ingredientes locais. É mais ou menos isto.

E o Peru tem três fatores determinantes nesta história. O primeiro são as correntes marítimas. A  Corrente de Humboldt, de águas frias ricas em plâncton, vem do Pólo Sul. Do Norte vem a corrente quente proveniente do Pacífico Central, o famoso El Niño.  As águas frias ao chegar na costa peruana recebem insolação tropical, se aquecem e afloram. Na superfície se acelera o processo de fotossíntese e o fitoplancton se torna mais nutritivo, iniciando uma cadeia alimentar que faz do mar peruano o mais produtivo do planeta.

Já na Cordilheira dos Andes uma grande quantidade de rios abrem espaços pelas montanhas. Alguns vão para o Pacífico e outros à foz do rio Amazonas. A região é muito rica em recursos minerais e formam-se vales com terras férteis pra a agricultura. A variedade de altitudes permite que se desenvolvam cultivos muito variados. Por fim, o Peru tem a Amazônia, região com a maior biodiversidade do planeta. Tudo isto muito próximo, com grande intercâmbio de culturas e experiências.

Terraços de agricultura no sítio arqueológico de Pisac.

Finalmente, os incas

Mas acredito que há algo mais que faz este país amar tanto a comida. A base está lá, mas e a alma? Fui aos poucos pensando no assunto e após visitar Machu Picchu cheguei ao terceiro ponto da minha teoria. Nosso guia em Machu Picchu era um verdadeiro professor de História, que conseguiu afastar nossa ‘lente cultural’ e abrir nossos olhos para outras formas de pensar. E de repente me vi pensando que está nos incas, este povo que tanta influência tem no povo peruano, o terceiro elo.

Pois bem, explico. Os incas são um povo primitivo mas, ao contrário da maioria deles, não um povo guerreiro. Praticamente não existem armas ou adereços de defesa deixados por eles. Não existem fortalezas. Praticamente não há registros nas cerâmicas (que registram TUDO o que os incas faziam, inclusive sexo e lavar o cabelo, por exemplo) de guerras ou batalhas. Mas como pode ser assim se o Império Inca conquistou em menos de 100 anos uma superfície de um milhão de quilômetros quadrados, do Equador ao norte da Argentina e do Chile? Pois aí que está a beleza da coisa.

Os incas eram, por natureza, um povo essencialmente agrícola. Não há fortes, mas há uma quantidade incrível de ‘terraços’ para agricultura, o sistema de cultivo por curvas de nível. Já se sabe, por exemplo, que Machu Picchu não era uma fortaleza e nem uma cidade propriamente dita, mas um santuário onde moravam nobres e sacerdotes, e onde se praticava a religião e a ciência. Que eram a mesma coisa. Uma ciência voltada essencialmente à previsão do tempo e ao desenvolvimento de técnicas agrícolas.

Em Machu Picchu há um calendário de pedra que estuda a insolação. Lá foram encontradas sementes de milho geneticamente modificadas, entre outras. Acredita-se que foram eles que transformaram as batatas originalmente pequenas em batatonas e o milho de grãos pequenos e em milhos de grão gigante. Os incas desenvolveram uma técnica (adotada até hoje) que permite desidratar batatas, que assim chegam a durar anos próprias para o consumo. Os incas  adoravam os deuses que influenciavam diretamente esta prática, como o Sol, a Lua, a Água, os Raios e os Trovões.

E como conquistaram tanto território desta forma pacífica? Sempre tinham excesso de produção agrícola. Seus depósitos de comida estavam quase sempre cheios. E era assim que faziam. Conquistavam outros povos pelo estômago 😛

Enfim, quem gosta de comer e explorar experiências gastronômicas, tem no Peru um prato cheio. Sem trocadilhos 😉

 

 

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