Um dia de Marina
Postado por Luciana em 29 julho 2011

Acordei cedo, nem ouvi o despertador tocar. Li o jornal, tomei café e liguei o computador. Nada. Nenhum som, nenhuma luz. Tudo morto. Já com vontade de chorar, ligo para o namorado para pedir ajuda. O telefone também mudo. Espumando de ódio, volto à cozinha para interfonar para a portaria, claro que deve haver algum problema com a rede do prédio. O interfone mudo me faz ultrapassar a preguiça e me visto para descer. O Paulo, zelador, desnorteado: “Ô Dona Marina, eu vi mesmo que a manhã estava muito calma, sem interfone tocando, mas aí o pessoal já começou a descer desesperado! Ninguém sabe ainda o que está acontecendo, mas é uma pane geral”.

Pego o carro e vou ao dentista. A Débora me avisa: “Dona Marina, a Dra. Alessandra já deve estar chegando, não consigo falar no celular dela, ela não vai gostar porque os computadores, o telefone, tá tudo sem funcionar!”. A Alê chega e entro na sala, estamos indignadas e repetimos várias vezes o que parece ser o bordão da Copa, “não estamos preparados”.

Saio e vou para o escritório. Caos total. Não adianta ficar ali mesmo, resolvo ir pessoalmente ao fórum ver os processos que precisam ser vistos hoje. Achei que o trânsito estaria péssimo, mas as ruas estão tranquilas. Estaciono e atravesso a Praça João Mendes. Parece tão mais limpa do que da última vez em que vim aqui… Encontro a Ana e outros amigos advogados que tiveram a mesma ideia de vir pessoalmente ao fórum. Em meio às reclamações e elocubrações, fico sabendo que nasceu o bebê da Mara e do Daniel, que a Beta está grávida de um menino, que a Norma casou e está em lua de mel na Itália e que a Joana passou no vestibular, em primeiro lugar. Tomamos um café sem pressa, ninguém tem muito o que fazer, e resolvemos visitar o Henrique na Liberdade ali ao lado. Saio do centro às 5 da tarde, feliz, e volto ao escritório só para deixar a papelada (coisa mais antiga) e dar as noticias dos processos para o meu sócio. Trabalho um pouco numa contestação (como o tempo rende sem interrupção de email, Twitter e Facebook) e resolvo visitar meus pais.

Chego lá e minha mãe: “Filha, você está viva! Estava tão preocupada”. “Por que mãe?”Ah, porque a gente fica sem conseguir se comunicar e fica nervosa né?”. Sento para jantar com eles, estava com vontade mesmo desta sopa de lentilhas da minha mãe, está um frio hoje. Tomo um vinho com meu pai e conversamos sobre a vida, a família. Eles me contam que resolveram sair da casa, que já ficou grande demais para os dois, e que vão procurar um apartamento. Parecem felizes com a decisão. Contam da próxima viagem. Não tenho pressa nenhuma em ir para casa, vazia das redes sociais.

Vou para casa finalmente, tomo um banho e mergulho no livro que estava parado e surpresa, é muito bom. Vou dormir. Acordo com o despertador do celular e por um momento esqueço do que aconteceu no dia anterior. Entro no Twitter e o assunto é só este, a pane geral das comunicações. Ligo a TV e fico sabendo que o problema afetou o mundo todo e que vai gerar bilhões em prejuízos.

Já saio atrasada e esbaforida porque perdi tempo demais no Twitter. No escritório, todo mundo com teorias do que pode ter acontecido no Dia da Marmota geek. Faço coro com as minhas impressões, mas já com um pouco de saudades de ontem.

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10 Comentários
  1. Lú,
    vc é demais!
    Amei o texto.

    bjos

  2. Texto maravilhoso…
    Desconectar e conectar com familia/amigos/pessoas queridas, ver que a vida é pra ser vivida, e não para ficarmos presos.
    Beijos, bom final de semana!

  3. Nossa, adorei, muito bom!

  4. O que seria de nós pobres mortais sem essas chatices porém essenciais tecnologias do dia-a-dia…? Adorei seu texto!
    Bjs

    Gra
    entrecoposepratos.blogspot.com

  5. Ótimo texto. Bom pra gente refletir… Beijo!

  6. Lu,
    Ótima cronica. Sabe que as vezes eu me dou um dia longe de todas estas coisas. bjs

  7. Que belo texto, Lu! Gostei mto!

  8. Luciana, que lindo texto!

    Aproveito para te convidar a participar do sorteio lá no Gourmandisme: uma cesta de produtos Hershey's! beijos

  9. É isso. O que veio para nos dar mais tempo, consome o nosso tempo.
    Adorei.
    BJô

  10. Que legal, Lu! Passarei sempre por aqui. Beijos! Silvia

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