Semana passada, em um texto sobre o Daniel Piza,  comecei a falar sobre literatura de viagem. Que abrange desde os livros de viagem propriamente ditos, ou ‘diários de viagem’, que relatam percursos e jornadas – até os livros que nos levam a viajar por outras culturas.

Este tema de literatura de viagem foi também objeto de discussão em um grupo virtual de leitoras viajantes. E foi neste grupo que surgiu a ideia de fazermos uma blogagem coletiva sobre os cinco livros que marcaram nossa vida de leitoras. Aproveitando o tema, escolhi falar sobre os cinco ‘diários de viagem’ que mais me marcaram.

Que inspirem outros leitores viajantes 🙂

CINCO LIVROS  DE VIAGEM QUE ME MARCARAM

AMYR KLINK – Cem dias entre céu e mar

Foi o primeiro diário de viagem que li, ainda adolescente. Amyr narra sua primeira travessia solitária a remo no Atlântico Sul, entre o Brasil e a África, realizada em 1984, uma jornada de 3.700 milhas e 100 dias pelo Atlântico.  O livro podia ser chato, mas Amyr descreve toda a preparação da viagem, seus sentimentos durante o planejamento, a emoção da partida e da chegada, as conversas com os objetos e animais que aparecem no seu caminho durante a travessia, com muita prosa e um quê de poesia. Cem dias entre céu e mar foi uma leitura bastante marcante na época em que o li, uma fase pós-adolescência e início de vida profissional na qual eu precisava de exemplos de foco, planejamento, trabalho duro e conquistas de objetivos e sonhos 🙂

JON KRAKAUER – No ar rarefeito

Li quase todos os livros deste autor, que é certamente um dos meus prediletos. Adorei Onde os homens conquistam a glória e A bandeira do Paraíso. Mas foi No ar rarefeito – um relato de viagem da sua expedição ao Everest –  que me cativou. Krakauer foi contratado por uma revista para participar e depois escrever sobre uma expedição ao topo do Everest, com o propósito de fazer uma crítica à “comercialização” do turismo de aventura nos dias de hoje. Ele não chega ao topo, mas no trajeto presencia a morte de um alpinista, encontra muitos tipos interessantes e se depara com uma série de problemas, como o excesso de lixo deixado pelos turistas. Krakauer faz justamente um contraponto ao Klink, já que mostra pessoas que querem realizar um sonho e atingir uma meta, mas sem o planejamento e preparo necessários.  Acho sensacional como ele consegue intercalar os relatos e descrições com doses de aventura, suspense, visão crítica e sem preconceitos.

TIZIANO TERZANI – Um adivinho me disse

Escrito por um jornalista italiano que viveu na Ásia, o livro nasceu de uma visita que fez a um “adivinho”, que lhe recomenda não viajar de avião durante um ano de sua vida, que é 1993. Terzani então passa o ano todo viajando a pé, de barco, de ônibus, de carro e de trem por vários países asiáticos, entre eles Burma, Tailândia, Laos, Cambodia, Vietnam, China, Mongólia, Japão, Indonésia, Singapura e Malásia. As viagens mais lentas possibilitam a ele ter mais contato com a população dos lugares por anda passa e rende boas histórias. Ele, inclusive, faz da consulta a adivinhos um hábito durante toda a jornada. Tendo em vista as transformações sofridas neste pedaço de mundo nos últimos anos, imagino que várias das descrições dos países visitados estejam defasadas. Mas em geral ele dá uma ideia muito boa de como vivem os povos asiáticos nos países (naquela época, pelo menos) ainda pouco “contaminados” pelo mundo moderno e pela influência ocidental. Leitura muito bacana para quem pretende conhecer estes países.

HANS CHRISTIAN ANDERSEN – Travels

Sim, o escritor dinamarquês de livros infantis foi um viajante e escreveu textos interessantes sobre suas viagens, que foram reunidos em um livro chamado Travels (sem tradução em português). Uma dica da Marcie. Andersen conta sobre suas viagens pela Europa Ocidental e Oriental, passando pela França, Alemanha, Áustria, Itália, Grécia, Turquia, Romênia e Hungria, entre outros países, em uma época que viajar não era comum e nem fácil. O mais bacana no livro é tomar contato com a personalidade deste autor de histórias tão famosas e que cativam até hoje, como “A Pequena Sereia”, “A Princesa e a Ervilha” e o “O Patinho Feio”.  Andersen é uma figura, um tanto ingênuo e suscetível a críticas, por vezes cômico nas descrições e observações, por outras detalhista e ótimo cronista. Nas andanças pela Europa ele encontra grandes nomes das Artes (Heine, Liszt, Mendelssohn, Victor Hugo e Balzac, por exemplo), outros tantos tipos anônimos interessantes e visita uma série de lugares. É curioso perceber que os viajantes só mudam mesmo de época e de endereço 🙂

JOSÉ SARAMAGO – A viagem do elefante

Este livro é diferente dos demais, porque não narra a viagem de uma ou mais pessoas, mas a jornada de um elefante de verdade mesmo 🙂 Foi o único livro de Saramago que li, e muita gente mais escolada nas leituras deste autor português acha este livro leve demais. Talvez seja por isto que gostei dele…  Saramago teve a ideia do livro quando, durante uma viagem a Áustria, entrou em um restaurante em  Salzburgo chamado ‘O Elefante’ e ouviu a história do elefante que cruzou a Europa, entre Lisboa e Viena, como um presente de casamento do rei de Portugal D. João III ao arquiduque austríaco Maximiliano II. Uma delícia de ler este livro, cheio das sutis ironias do Saramago, principalmente criticando a burocracia, o poder e os excessivos salamaleques e gastos de um governo.

Semana que vem, minha lista de desejos de outros ‘diários de viagem’ muito bacanas!

 

Participam desta blogagem coletiva:

Camila Navarro do Viaggiando

Helô Righetto do Básico e Necessário

Karine Fontes do  Caderninho da Tia Helo

Luciana Betenson do Rosmarino

Mari Campos do Pelo Mundo

Mo Gribel do Por Onde Andei

Renata Inforzato do Direto de Paris

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19 Comentários
  1. Lu,

    Eu comecei a escrever sobre o No Ar Rarefeito e mudei para O Meu Everest!!!!!!!!! rsrs
    Amo o primeiro também! Você leu A Escalada que conta a versão do Anatoli Boukreev?

  2. Ótima lista! 🙂 Desses só li 100 dias entre o céu e o mar e Um adivinho me disse. Fiquei com vontade de ler No ar rarefeito, vou comprar.

  3. Acho que o livro do Amyr Klink é quase uma unanimidade. Só eu ainda não li! Confesso que pensava que seria uma leitura entediante. O que poderia haver de interessante numa viagem com água por todos os lados? rsrs Mas você deixou claro que há muito mais a ser explorado. Vou rever meus conceitos. 😀

    “Um adivinho me disse” deve ser ótimo! Vai ser primeiro da sua lista que vou querer ler!

    Você deve ter se lembrado do Jon Krakauer no Atacama, né? 😉

    Beijos!

    • Muito! Acho o Jon Krakauer sensacional 🙂 Vou já ver a sua lista, Cam! Bjs

  4. Graaaande lista, Lu!!! E, well, #todasAMAAmyr , né? 😛

  5. Já peguei dicas aqui também. Esse “Um adivinho me disse” quero comprar já. Hoje a tarde vou ter um preju com os livros que o povo ta indivando nos blogs 😉

    Quando eu iria escrever hehe o foco seria o Everest, começando pelo livro do Krakauer. Nossa, esse livro me marcou muito!!! Mas só uma coisa, ele chegou ao topo sim!

    Bjos

    • Eu não lembrava dele ter chegado ao topo, Carlinha! 🙂 Mas é demais este livro mesmo. Bjs!

  6. Lu, assim como a Camila, o primeiro que vou correr pra ler é o Um Adivinho me Disse. Li No Ar Rarefeito e o Amyr tb. Aliás, o Amyr era do meu irmão e ele me deu 🙂 Realmente, é um exemplo se como se planejar e ser disciplinado (algo que não sou). Adorei a lista, Lu.

  7. Lu,
    Voces vão me fazer comprar um monte de livros… Ótima idéia desta blogagem coletiva. Muito inspiradora. Também estou neste fã clube do #todasAMAAmyr. Bjs

  8. Tô lendo agora os posts da bologagem coletiva. Adorei o tema!
    Tinha várias anotações de livros indicados por você no bloco de notas do meu ipod que morreu 🙁 Pelo menos agora tenho uma lista nova 🙂
    Assim como a Camila, também achava que o livro do Amyr deveria ser chato. Gostei muito de ver sua análise dele.

    Bjs, Lú! Deixe eu ir ler as outras listas 😉

  9. Xará,
    Adorei a lista!
    Um Adivinho me disse é livro de cabeceira para mim. E, da próxima vez que voltar à Ásia, já tenho o nome de um adivinho para consultar 🙂
    Gosto do Saramago em geral, mas tenho um enorme xodó pelo “A Viagem do Elefante”!
    Não conhecia este do Andersen, mas está anotado!
    Bjs,

    • Lu, que legal que você leu e gostou do Adivinho e do Viagem do Elefante! Bjs 🙂

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